Segurança na Blockchain e Crimes Digitais
Tudo o que Aconteceu no 6º Space do Hub Online Cardano Brasil
A crescente adoção das criptomoedas expandiu a liberdade financeira, mas também proporcionou terreno fértil para esquemas de fraude e crimes cada vez mais sofisticados. Para discutir a tensão entre inovação e risco, o Hub Cardano Online Brasil promoveu seu sexto X Space, dedicado ao tema “Segurança na Blockchain e Crimes Digitais”. O encontro foi conduzido por Daniela Alves, Maria Carmo e Munir e teve como convidado central o delegado Vytautas Fabiano Silva Zumas, autoridade reconhecida no combate a ilícitos envolvendo criptoativos.
👁️ A visão do especialista
Logo no início, Vytautas Zumas relatou o ponto de inflexão de sua carreira, em 2019, quando percebeu que investigações policiais eram interrompidas ao esbarrarem em transações com criptomoedas. Motivado por esse impasse, especializou-se em rastreamento on-chain e hoje coordena o Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil de Goiás, além de integrar grupos internacionais vinculados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Ao contrário da percepção corrente, o delegado defendeu que a natureza pública e imutável dos ledgers faz da blockchain uma aliada das investigações, permitindo seguir o fluxo de fundos com precisão superior à do sistema bancário tradicional.
Entretanto, ele chamou atenção para um obstáculo cultural: pesquisas com centenas de policiais revelam que mais de 90 % ainda consideram as criptomoedas uma “barreira intransponível”, reflexo direto da falta de capacitação técnica nas academias e cursos de formação.
Mais de 90 % ainda consideram as criptomoedas uma “barreira intransponível”
🔒 Privacidade, pseudonimato e o legado cypherpunk
Discutindo o suposto anonimato das transações, Zumas resgatou a distinção cunhada pelos cypherpunks entre anonimato absoluto e privacidade seletiva. A blockchain opera num regime de pseudonimato: endereços não trazem dados pessoais, mas o uso descuidado — como a reutilização de carteiras ou a interface com exchanges centralizadas — pode vincular inúmeras transações a uma mesma entidade.
Ferramentas que aumentam privacidade, como mixers ou carteiras que executam coin-join, não são intrinsecamente ilegais; o problema é o uso que se faz delas. O delegado alertou que tais recursos também são explorados por criminosos e, por isso, defendeu um equilíbrio em que a proteção à vítima não signifique demonizar a tecnologia.
🌐 Limites técnicos e barreiras internacionais
Ao abordar moedas de privacidade robusta — caso da Monero — Zumas admitiu que o rastreamento ainda é, do ponto de vista forense, tecnicamente inviável. Contudo, lembrou que criminosos precisam converter esses ativos em moedas fiduciárias ou cripto mais aceitas e, nesse ponto, deixam rastros em serviços centralizados que obedecem a políticas de KYC/AML.
Mesmo quando o rastro técnico é claro, surgem entraves jurídicos. Em um dos casos citados, fundos desviados foram seguidos até um hacker russo; sem cooperação internacional, porém, não foi possível efetivar a responsabilização.
⚖️ Regulação brasileira e compliance
A conversa também destacou a Lei 14 478/2022, que atribuiu ao Banco Central o poder de registrar e fiscalizar exchanges de criptoativos. Essa mudança põe fim ao “limbo regulatório” e exige das plataformas controles equivalentes aos do setor bancário. Embora setores libertários critiquem a ampliação de requisitos, Zumas argumentou que tais instrumentos jurídicos são indispensáveis para que o Estado possa proteger vítimas — inclusive entusiastas da própria comunidade cripto.
🎓 Educação digital como gargalo
Para o delegado, o elo mais fraco continua sendo a alfabetização digital: golpes de phishing, SIM-swap e furtos de smartphones tendem a prosperar porque grande parte dos usuários desconhece práticas elementares de custódia de chaves, autenticação multifator e higiene de segurança. A lacuna formativa atinge também agentes públicos, o que explica a percepção de “impasse” nas investigações.
📰 Notícias do ecossistema Cardano
Na sequência, Munir apresentou as principais novidades da rede Cardano, que ilustram por que o debate sobre segurança e compliance se torna cada vez mais relevante:
Escritório da IOG em Buenos Aires — presença de Charles Hoskinson fortalece a produção científica latino-americana.
Primeira transação de Bitcoin encapsulado em Cardano — passo crucial para interoperabilidade nativa BTC ↔ ADA.
Rumores de stablecoin bancária — consórcio com JP Morgan, Bank of America, Citi e Wells Fargo estuda emissão; possível influxo de liquidez institucional.
💬 Debate com a comunidade
Um ponto sensível levantado pelos ouvintes foi a responsabilidade de auditorias de smart contracts quando ocorrerem invasões logo após a certificação. Zumas explicou que, muitas vezes, o vetor de ataque não reside no código auditado, mas em falhas de custódia, engenharia social ou comprometimento de chaves de desenvolvedores — o que reforça a importância de seguros cibernéticos, auditorias contínuas e cláusulas contratuais claras entre projetos e empresas de auditoria.
🏁 Conclusão
O Space evidenciou que segurança na blockchain exige a confluência de três pilares: capacitação ampla, ferramentas forenses modernas e um arcabouço jurídico equilibrado. Quando esses elementos dialogam, a transparência inerente aos registros distribuídos transforma-se numa aliada poderosa da investigação criminal, sem sacrificar os valores de descentralização e privacidade que inspiraram o surgimento das criptomoedas. A evolução regulatória brasileira e o vigor do ecossistema Cardano — agora com pontes a Bitcoin, presença física na América do Sul e possíveis stablecoins bancárias — indicam que inovação e proteção podem caminhar lado a lado. O Hub Cardano Online Brasil seguirá fomentando esses debates, reduzindo a lacuna de conhecimento e incentivando práticas seguras de adoção tecnológica.
Ouça o space completo:
X: https://x.com/i/spaces/1RDGlznBPXDxL/peek
Ouça também em nosso substack:
#6 - X Space - Segurança na Blockchain e Crimes Digitais
Neste episódio, gravado no Space de 24/05, recebemos Vytautas Fabiano Silva Zumas — delegado da Polícia Civil de Goiás e especialista em investigação de criptoativos — para um diálogo conduzido por Daniela Alves, Maria Carmo e Munir.